maio 17, 2017

a caverna

Eu andei por tantos vales
E caminhei rumo a esta caverna
Ali encontrei uma charada
Que abria a porta à luz de velas

"Quem aqui entrar
Não basta o seu querer
Deve se entregar
E esquecer-se de você"

Assim permaneci
Acampado em minha consciência
Tentando resolver
A charada com minha vaga ciência

Percebi a fome
E a sede chegarem.
Senti o frio da noite
E os medos entrarem

Mas busquei a coragem
E com o resto das forças
Sobrou a saudade
De quem uma vez fui

E de quem conheci
Cada pedacinho de memória
Que ali precisava
Deixar ir

Amanheceu um Sol dourado
E cansado me vi esmorecer
E sem forças para voltar
Supliquei por este conhecer

A caverna estremeceu
E gotas caíam de seu teto
Tentei levantar-me
E repentinamente, me vi coberto

Com toda a bagagem que acumulei
As verdades que eu mesmo criei
E vi o quão efêmero era esta concepção
Aflito, ali estava, em plena desilusão

Em algum momento
Perdi noção de minha memória
A cognição falha
Já não recordava minha própria história

E mais uma vez tudo estremeceu
Eu, com medo, tentei me agarrar
Às paredes que criei
E pedia por alguém para me salvar

Quando dei por mim
Num lapso de sentido
Não havia mais a grande porta
E apenas um caminho

Que trilhei
Com meu trêmulo andar
Mas aguentei
A falta do peso, por ali estar

Descendo e subindo
Pela longínqua passagem
Adentrei uma saída sorrindo
Pois só possuía uma verdade

E ali pude compreender
Os meros títulos que carreguei
O abandono de si
E a salvação que tanto clamei

Por fim, atônito, encontrei uma fonte
Bebi com tamanho cuidado
E assim lavei minha fronte

Respirei aquele ar profundo
Que clareou minhas profundezas
Sabia, naquele instante,
Que havia encontrado a minha firmeza

Descansei mais um pouco
E me vi alimentado
Não sabia onde estava
Mas sabia qual era o meu estado

E enfim despertei
Na porta da caverna
Renovei-me por inteiro
Cada célula interna.

Tornei a caminhar pela trilha que escolhi
Deveras, não sei onde vou chegar
Mas sei como quero ir.

R.

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